Escrita em 1958, numa era de “prosperidade”, a peça The Zoo Story é um ataque ao designado “sonho americano”. Edward Albee põe-nos a assistir a um encontro aparentemente fortuito entre dois homens, no Central Park de Nova Iorque. Cada um deles representa uma “América”. Um representa a América normativa: é um pacato pai-de-família, com uma mulher, duas filhas e animais de estimação (com alguma ironia em relação ao mundo da literatura, Albee atribui-lhe a profissão de executivo numa editora). O outro representa a América invisível: é um homem errante; a descrição que nos faz do edifício onde vive parece representar literalmente a margem social a que ele pertence e, ao mesmo tempo, metaforicamente o seu espírito conturbado. A peça é uma denúncia política, e convida a um tipo de representação simultaneamente realista (as personagens comportam-se de acordo com a classe social a que pertencem) e emocional (as personagens entram ambas em estados de intensa perturbação) – motivos pelos quais convidámos João Mota para a encenar. Como a peça traça uma geografia social da cidade de Nova Iorque, referenciando as suas diversas zonas de acordo com as classes socais que nelas habitam, o cenário punha também em evidência a territorialidade do palco e estendia-se aos espaços percorridos pelo público até à sala: todas as dimensões foram explicitadas com fitas e algarismos colados ao chão. Face à escassez financeira com que este projeto foi concretizado, os cartazes eram restos de stock cedidos por uma fábrica de papel de embrulho, sobre os quais foram coladas etiquetas com a informação.
texto Edward Albee ‧ tradução Carlos Falcão ‧ encenação João Mota ‧ com Jorge Andrade e Pedro Martinez ‧ cenografia, figurinos e cartaz José Capela ‧ fotografia de cena Susana Paiva ‧ apoio Comuna Teatro de Pesquisa ‧
15 de abril a 16 de maio 2004 ‧ Comuna Teatro de Pesquisa (Lisboa)